Seminário de Guerra Irregular e Defesa Nacional

No dia 10 de setembro, decorreu no Auditório da Academia Militar, na Amadora, o Seminário de Guerra Irregular e Defesa Nacional, no qual foram debatidas capacidades de emprego em Operações Irregulares, evento que contou com a presença de oradores de diversas nacionalidades.

A Sessão de Encerramento foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. Nuno Melo, tendo contado igualmente com a presença do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, General José Nunes da Fonseca, e do Chefe do Estado-Maior do Exército, General Eduardo Mendes Ferrão.

A Associação de Auditores dos Cursos de Defesa Nacional foi convidada para o evento e fez-se representar pelo Vogal da Direção, António Brás Monteiro, que nos descreve o seguinte:

“Este evento reforçou a importância de compreender a guerra irregular e adaptar as estratégias de Defesa Nacional para responder a ameaças que vão além do combate convencional.

Lembro que a guerra irregular, como visto ao longo da história, é uma forma de conflito que remonta a tempos antigos, com exemplos como as táticas de guerrilha na Roma e Grécia Antigas, onde tribos e pequenos grupos utilizaram ataques surpresa e emboscadas contra exércitos muito maiores e melhor equipados. Outro exemplo marcante é encontrado em “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu (século V a.C.), onde já se destacavam táticas de engano, uso da inteligência e manobras inesperadas, elementos essenciais da guerra irregular. Durante a Idade Média, as táticas de guerra irregular foram usadas em contextos como as incursões vikings (séculos VIII-XI) e as estratégias dos Mongóis no século XIII, que, apesar de também lutarem como uma força convencional, frequentemente empregavam operações psicológicas e ataques-surpresa.

A conferência destacou como, na atualidade, o conceito de guerra irregular evoluiu para incluir não apenas combates diretos, mas também a guerra cibernética, as operações de informações e a manipulação do espaço digital, refletindo a complexidade dos conflitos modernos. Casos como os conflitos em Timor-Leste, onde a resistência local enfrentou forças de ocupação com recursos limitados, ou a recente defesa da Ucrânia contra um adversário superior em termos de força convencional, exemplificam a importância de integrar abordagens irregulares em estratégias de Defesa Nacional. Estas experiências realçam que a guerra irregular não é uma anomalia na história militar, mas sim uma constante que desafia as nações a se adaptarem continuamente para enfrentar ameaças que frequentemente operam fora dos limites tradicionais da guerra.

Neste contexto, o evento salientou a necessidade de um entendimento profundo das raízes históricas da guerra irregular e da sua aplicação contemporânea para moldar a doutrina militar e a capacidade de resposta das Forças Armadas. A experiência acumulada pelo Exército Português durante os conflitos em África, por exemplo, moldou a doutrina, o treino e a liderança dos quadros militares, desenvolvendo uma capacidade única de adaptação e resiliência em diversos ambientes de operação. O seminário destacou que essa adaptabilidade, aperfeiçoada ao longo dos anos, permanece vital para enfrentar os desafios da guerra irregular contemporânea, onde a Defesa Nacional deve ser capaz de responder rapidamente a ameaças complexas e multifacetadas, utilizando uma combinação de força militar, intelligence, operações cibernéticas e apoio da população local.

Portanto, a conferência sublinhou que, na era moderna, a Defesa Nacional exige uma abordagem holística e integrada, onde a flexibilidade, a inovação, e a cooperação internacional são cruciais. Este conhecimento é fundamental para garantir que as nações estejam preparadas para enfrentar um cenário de segurança em constante mudança, onde as ameaças são cada vez mais diversificadas e imprevisíveis, requerendo estratégias que combinem o melhor das operações convencionais e irregulares.” 

Relativamente à intervenção de S. Ex.ª o Ministro da Defesa Nacional, António Brás Monteiro destaca a mensagem em português que o mesmo dirigiu aos militares que combateram em África, alguns dos quais presentes na plateia: “minhas senhoras e meus senhores, meus caros militares, eu quero prestar realmente a minha homenagem a todos aqueles que lutaram e aos que tombaram em África, militares portugueses e africanos, todos sob a mesma bandeira, alguns dos quais eu devo dizer nos honram também com a sua presença aqui hoje, em particular mas representando todos os militares condecorados por feitos excecionais de heroísmo militar de abnegação, e que colocaram em risco a própria vida, sacrificando-se pela Pátria Portuguesa. Realmente compete-nos nunca esquecer. Eu pessoalmente não esqueço.”

António Brás Monteiro realça ainda a forma como S. Ex.ª o Ministro da Defesa Nacional termina o discurso na cerimónia de encerramento: “…That’s why this Government has prioritized Defence, and as Minister, I have made it my mission to put people first, to ensure our Armed Forces continue to safeguard our national security, keeping Portugal relevant on the global stage, and ready to address the ever-changing character of war. We stand proud of our past – shaped by virtues and wrongs -, like any nation’s history, in all its parts, without seeking apologies, but with our eyes set on the future.”

Para mais informações sobre o evento clique aqui.

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