
O Dia da Marinha, celebrado anualmente em 20 de maio, é uma data de profunda importância histórica e simbólica para Portugal. Assinala a chegada da armada de Vasco da Gama à Índia, em 1498 — um dos momentos mais marcantes da epopeia dos Descobrimentos, que projetou Portugal no mundo e redefiniu o curso da história global. Este dia celebra, pois, mais do que uma força militar: homenageia uma herança marítima que moldou a identidade da Nação e continua a ser uma âncora de soberania, ciência, diplomacia e inovação.
Com mais de sete séculos de existência, a Marinha Portuguesa é a mais antiga marinha de guerra do mundo ainda em operação. Nascida da necessidade de proteger o território e os interesses marítimos do Reino, cresceu como instrumento de projeção de poder e conhecimento, tendo desempenhado um papel determinante na construção do mundo moderno. A sua história está intimamente ligada à dos navegadores, cartógrafos, cientistas e militares que expandiram as fronteiras do saber e da geografia. O mar foi — e é — a nossa principal avenida de encontro com o mundo.
O Presidente da República, na qualidade de Comandante Supremo das Forças Armadas, evocou neste Dia da Marinha todos os que serviram e servem esta instituição, herdeiros de uma tradição de serviço, coragem e resiliência. A Marinha continua hoje a ser uma força vital na defesa da soberania nacional, no cumprimento de missões de paz e segurança internacional, e na resposta a desafios emergentes como a proteção ambiental, o combate à pirataria, a vigilância dos espaços marítimos e a investigação científica dos oceanos.
Uma palavra especial é dirigida a todos os marinheiros atualmente em missão, seja no Continente, nas Regiões Autónomas ou em águas internacionais. São estes homens e mulheres, muitas vezes em silêncio e longe dos holofotes mediáticos, que garantem a presença ativa de Portugal no mar, assegurando compromissos da República e defendendo os interesses estratégicos nacionais.
As comemorações oficiais do Dia da Marinha 2025 decorreram na cidade de Viana do Castelo, entre os dias 14 e 20 de maio, num programa rico e diversificado que envolveu a comunidade local, instituições de ensino, entidades culturais e milhares de visitantes. O evento incluiu exposições, visitas a navios da Marinha, demonstrações operacionais, concertos, cerimónias protocolares e iniciativas pedagógicas destinadas a sensibilizar os mais jovens para a importância do mar e da defesa nacional. Viana do Castelo, cidade de fortes tradições marítimas e industriais, foi um palco particularmente simbólico para esta celebração, ligando passado, presente e futuro numa homenagem viva à Marinha e à identidade atlântica de Portugal.
No entanto, contrasta com a grandeza e significado da efeméride a modesta atenção mediática que lhe é frequentemente dispensada. Em 2025, enquanto instituições e parceiros internacionais, como a Marinha dos Estados Unidos da América, reconheceram e celebraram a longevidade e prestígio da Marinha Portuguesa — a mais antiga do mundo — em Portugal o momento passou quase despercebido no espaço público. A ausência de um verdadeiro debate nacional sobre o mar, as Forças Armadas e o papel geopolítico de Portugal como nação atlântica é reveladora de uma preocupante erosão de consciência estratégica.
É urgente resgatar e valorizar a centralidade do mar para Portugal. A Marinha não é apenas um ramo das Forças Armadas; é uma instituição estruturante do Estado, promotora de soberania, segurança, ciência e desenvolvimento. É também um pilar da afirmação externa de Portugal, especialmente no contexto do Atlântico, onde os desafios geoestratégicos são crescentes. O reforço da cooperação com aliados como os Estados Unidos, nomeadamente no âmbito da NATO, da segurança marítima e da inovação tecnológica, é essencial para garantir a relevância de Portugal nas dinâmicas internacionais do século XXI.
Celebrar o Dia da Marinha é, e deve ser, também afirmar uma visão de futuro. É lembrar que o mar é o maior ativo estratégico de Portugal — do ponto de vista económico, ambiental, científico e militar. É reconhecer que o país não pode continuar a ignorar as suas responsabilidades marítimas nem desperdiçar o potencial que detém. A Marinha, com a sua experiência secular, a sua capacidade operacional e o seu compromisso com a missão, é parte vital da resposta nacional aos desafios do presente e do futuro.
Neste 20 de maio, celebremos com orgulho todos os marinheiros, passados e presentes. Agradeçamos o seu serviço, o seu profissionalismo e a sua dedicação à Pátria. E reafirmemos, com convicção, que Portugal é — e deve continuar a ser — uma Nação do Mar.
Viva a Marinha Portuguesa! Viva Portugal!
O Presidente da Associação dos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional

